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Mãe, matrimônio e patrimônio (Zero Hora)

Mãe, matrimônio e patrimônio (Zero Hora)

Mãe, matrimônio e patrimônio
Zero Hora, de 07 de maio de 2011

No próximo domingo, celebra-se o Dia das Mães. Os marqueteiros apelam para os presentes como demonstração de afeto. Acima de tudo, porém, deve estar a figura da mãe, da mulher, rendendo-lhe a justa homenagem, face ao seu crucial papel social. Não se trata da mãe idealizada pelo marketing, cuja preocupação é o consumo. Refiro-me à mãe e mulher, dos filhos, do lar, do trabalho, da dupla ou tripla jornada, de todas as horas. Ela, em pessoa, é o centro das homenagens e comemorações O período é próprio para refletir sobre a condição da mulher e mãe. Proponho essa reflexão a partir da análise de alguns termos a ela vinculados.

Do latim “mater”, mãe e do espanhol “madre”. “Mater” evoluiu para “made”, mais tarde nasalizada para mãe e mamãe, possivelmente por influência da linguagem infantil. Da raiz “mater” deriva o matrimônio, em latim “matrimoniun”. Ato solene de união entre duas pessoas de sexo oposto, capazes e habilitadas, com legitimação religiosa e/ou civil. As leis adaptam-se aos novos costumes, o que pode ser constatado no que tange à união de pessoas de sexo oposto (homoafetividade).

A linguagem é o reflexo de cada época. Veja o que acontece com a palavra “matrimônio”. O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antenor Nascentes, 1955, registra: “Referindo-se aos encargos e às dores que o casamento traz à mulher, diz Nunes, Digressões lexicológicas, 109, que foi sem dúvida por isso que os romanos apelidaram de matrimônio o ato pelo qual ela se liga ao homem, fazendo assim realçar a importância do seu papel, quer como propagadora da espécie, quer sobretudo como educadora da prole”. Verifica-se que o termo matrimônio deriva do radical “mater”, mãe, vinculando-o, assim, à figura da mãe, o que não ocorre por acaso, eis que a ela estavam afetos os compromissos com a casa, com os afazeres domésticos e com a criação dos filhos. Nesse contexto, compreende-se o significado do enxoval da noiva – de que peças era constituído – e do dote, este como o conjunto de bens que a mulher transferia ao marido para ajudá-lo a prover os encargos do matrimônio e da nova casa. O dote devia compor um determinado valor, dentro dos costumes de cada época, sem o qual a moça não se habilitava ao casamento. Verifica-se que, acima do amor, estava a necessidade do dinheiro. O dote impedia que a pobre, sem bens, casasse com homem mais rico, o que preservava as classes sociais.

O termo patrimônio segue o mesmo modelo lexical de matrimônio, a partir do radical “pater”, pai. Designa os bens, o capital, as propriedades obtidas por todos os que estavam sob o poder do “pater familiae”, o chefe de família ou de todas as famílias que viviam sob suas ordens – filhos que casassem e permanecessem morando com o pai. Cabia-lhe a guarda de tais bens, conforme os preceitos do direito romano, sendo o pai a figura principal, “cabeça do casal”. Competia à mulher as funções inferiores da casa. Nesse sentido, a legislação também evoluiu, acompanhando as conquistas femininas, estabelecendo o equilíbrio de poder entre ambos, embora persistam discriminações. é importante constatar: a) matrimônio origina-se de mãe, com os encargos da prole, da roupa, da comida, do provimento dos afazeres da casa; b) patrimônio deriva de pai, com a ideia de proprietário, patrão, dono, além de de representar capital, dinheiro, a“grana”. Para dar conta das lidas da casa, a linguagem socorre-se da mãe; para designar os bens e posses, inspira-se na palavra pai. Para muitos, pode passar despercebido esse capricho linguístico. No entanto, presta-se para reflexão e contribui para explicar o papel exercido historicamente pelo homem e pela mulher. E mais, ajuda a compreender a submissão imposta, ao longo dos tempos, à figura feminina.

Ari Riboldi, professor e escritor.

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