Habemus papam no Brasil
Zero Hora – 24 de julho de 2013
O que realmente
almejo é que a
vinda do Papa
propicie o
reencontro do
povo brasileiro
consigo mesmo
Eis que o Papa Francisco chegou a solo brasileiro para a Jornada Mundial da Juventude. O país vive tempos de efervescência, de grandes manifestações do povo nas ruas, particularmente por parte dos jovens, em deliberado descontentamento, desencanto e em clamor por mudanças imediatas. Justamente os jovens brasileiros, que pareciam adormecidos, alienados, absortos em si mesmos e em seu pequeno mundo. Nesse contexto, parece oportuna a vinda do Sumo Pontífice e a mensagem que pode semear no escaldante momento histórico brasileiro.
Como a grande maioria dos jovens, nos meus já vividos anos, eu também não acredito em homens messiânicos, em salvadores da pátria. Espero apenas que a presença do Papa conduza a um ambiente propício para a reflexão interior, para a maturidade democrática, para o resgate de valores. Tomara que as reivindicações continuem com a mesma intensidade, para que a sociedade desperte para a cidadania, para o exercício pleno de seu protagonismo, na exigência efetiva de direitos para todos e também no fiel cumprimento dos deveres.
Quisera que a solidariedade tomasse conta de todos, expurgando o egoísmo doentio, a indiferença ignóbil diante dos marginalizados e excluídos. Que as pessoas recuperassem a capacidade de tolerância, num exercício diário de respeito aos diferentes. Que houvesse espaço maior para valores universais como o respeito, a honestidade, a ética, a dignidade humana, acima do consumismo exacerbado e escravizante, capaz de sacrificar qualquer princípio moral. Que as pessoas fossem valorizadas por si mesmas, pela sua essência, e não apenas pela renda per capita, pela capacidade e potencial de consumo.
Tempo oportuno também para que as autoridades políticas de todas as instâncias de poder resgatem a dignidade na árdua e, ao mesmo tempo, dignificante missão de representar o povo. Que tenham a coragem de promover as mudanças exigidas pela população, no seu legítimo papel de democracia direta, expurgando desse meio os aproveitadores do bem público. Não espero que o Papa anuncie alterações no campo dogmático da Igreja Católica. Isso é secundário. O que realmente almejo é que a sua vinda propicie o reencontro do povo brasileiro consigo mesmo e que, de fato, se busque a construção de uma grande nação, na qual todos tenham educação, saúde, segurança, moradia, direitos, deveres, dignidade e plena cidadania.
Ari Riboldi, professor e escritor.